Murphy

Quem não ouviu ainda falar da Lei de Murphy? Pois é, este mês não há maneira desse gajo me "deslargar da mão"... 

Este elegante senhor é Fortunato Gabriel, o meu bisavô materno. A foto é de mil novecentos e vinte e qualquer coisa... Não o conheci, mas graças a registos meticulosos que fazia, praticamente de tudo, em caderninhos rabiscados com canetas de várias cores, fiquei a conhecer ao pormenor 6 meses da sua vida (e 12 anos da vida do seu carro também!). Em 1963 passou 6 meses em Portugal com a minha bisavó, numas grandes férias que incluíram, entre outras coisas, idas a várias localidades em passeio e visitas a amigos e familiares, idas ao teatro, ao cinema e a vários jogos de futebol. Estão lá registados todos os detalhes: os nomes das peças, dos filmes e os resultados de todos os jogos! Descobri assim de onde herdei a mania de, por exemplo, fazer desde há muitos anos uma lista de todos os filmes que vejo...

Há muito que não via um episódio piloto de uma série com tanta vontade e interesse. Stephen (lê-se Steven LoL) King: promete-me que a série não se vai armar em FlashForward!!!
Correr como um coelho, saltar como um gato, balançar como um macaco. Aqui não há paredes ou muros que não se trepem, nada é inacessível. Aqui não se cai. Rebola-se. E faz-se Parkour... descalço! Awesome!




Chego à estação um minuto antes do comboio partir. O movimento do costume. Procuro o meu lugar e de passagem reparo num "feijão verde" à paisana que lê o mesmo livro que eu. Passa-me pela cabeça voltar lá mais tarde. Afinal não é todos os dias que se encontram pessoas com quem se possa falar sobre o assunto. Mas não volto. Alguns telefonemas e um lanche depois, enterro-me no banco à procura de posição para ler. Hoje vou sentada de costas para o meu destino. Consigo ver apenas topos de cabeças: alguém com uns daqueles phones enormes, cor-de-rosa bebé... uma cabeleira meia loira, a precisar de retocar as raízes e duas cabeças grisalhas. Do outro lado do corredor, de frente para mim, um homem de meia idade a precisar urgentemente de um banho! Barba até ao peito, encardida, completamente selvagem, mal se vê o nariz vermelho. O cabelo está cheio de gordas rastas naturais... recheadas nem quero saber de quê... Tivesse eu à mão uma tesoura, um par de luvas e um frasco de creolina e talvez me sentisse tentada a fazer uma boa acção. Grândola, Vila Morena. A senhora ao lado dele, com as pérolas a cairem das orelhas, não tem mais para onde fugir. Vai praticamente sentada de lado. Tem muita vontade de trocar de lugar, mas não o vai fazer. Uma garrafa de água fresca, de litro e meio, cai numa daquelas mesas para quatro e fica a rebolar de um lado para o outro. Ninguém se mexe. Vou ler... "Este mundo é uma merda", diz Watanabe. Não anda assim tão longe da verdade. 55 páginas depois reparo que o homem barbudo a precisar de um banho calça apenas uns chinelos de enfiar o dedo. Em pleno Janeiro. De resto: camisa de flanela aos quadrados, casaco de fato abotoado, calças de ganga. O que faria este homem barbudo  a precisar urgentemente de um banho no Intercidades Lisboa-Faro esta 6ª feira? Posso estar na presença do génio da Física Quântica com o pior aspecto de sempre, mas nunca saberei. Volto a embrenhar-me nas palavras de Murakami. Quando dou por mim, o homem já não está no seu lugar. Faro à vista.

(D)jango


"I like the way you die, boy". Christoph Waltz em grande, como sempre. O melhor papel de Jamie Foxx até à data. Dava uns cortes ao filme... mas tirando isso, está (quase) tudo no sítio.
As pessoas. A falta de tudo. O olhar para a frente e não ver nada. E assim se começa um novo ano...